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Arquitetura, decoração e design

Muita história para contar

Micaela Marcovivi reúne em seu apartamento objetos que falam de sua vida e de seus amigos

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Por Ana Garrido
Atualização:

    Ter um quadro no meio da sala de um artista reconhecido já causa satisfação. Imagine, então, se o modelo do quadro for você e a obra não se tratar de uma encomenda? É para deixar qualquer um com o ego nas alturas, não? Para Micaela Marcovici, não. Ela encara a situação com naturalidade e ainda acha graça de a pintora Isabelle Tuchband a ter retratado como uma mulher loira. Não, Micaela não faz o tipo blasé. Ela simplesmente tem muitos amigos ? e valoriza os presentes que eles lhe dão ? e várias histórias para contar, expostas em cada canto de seu apartamento na Praça Vilaboim, em Higienópolis. A compra do imóvel, aliás, é uma delas. E, por coincidência, está ligada também a seu círculo de amizade. Foi durante um jantar no apartamento da curadora de arte Sheila Leirner que Micaela se interessou pelo prédio e teve o estalo de se tornar vizinha da amiga. ?Sentada na sala de jantar de Sheila, pensei: ?vou ter um apartamento aqui?. E, ao sair de lá, já avisei o porteiro?, conta ela, que, na época, morava com os pais na Praça Buenos Aires. Assim que desocupou um imóvel no desejado prédio, ela tratou de fechar negócio, aproveitando que o irmão iria se casar. ?Queria me mudar logo. Até porque achava que seria melhor para os nossos pais ter um choque só, vendo os filhos saírem de casa todos de uma vez?, explica. Mas quem vê os cômodos todos ocupados hoje não imagina que a moradora chegou apenas com uma mesa, que havia comprado e deixado guardada no seu quarto na casa dos pais. ?Todo mundo me chamava de louca. Nem geladeira eu tinha.? Com a cara e a coragem e, principalmente, o conhecimento adquirido em sua vivência profissional ? ela foi assessora de arquitetos ?, Micaela reformou o próprio apartamento. A primeira decisão foi a de colocar carpete por cima do antigo piso de tacos, então detonado, já que ?lixá-lo geraria muita poeira?, além de levar mais tempo. Como um dos dois quartos virou escritório, ela decidiu integrá-lo à área social, com uma abertura de acesso para a sala de jantar. A solução foi repetir o vão que já existia entre as salas de estar e de jantar, o que ainda trouxe mais claridade natural para o living. Para decorar, Micaela se vale, além das amizades ? ?todas as minhas obras de arte são de amigos, são todos conhecidos? ?, do hábito de visitar feiras e circuitos artísticos, o que ela mantém desde quando morava em Paris. ?Esse costume é bem europeu. Sempre gostei de visitar lojas, mercados de pulgas, mesmo que não comprasse nada. Assim, a gente aprende a reconhecer um estilo e mesmo se o produto tem qualidade ou não.? Tal hábito veio com Micaela para o Brasil quando ela tinha cerca de 20 anos. Nascida na Romênia, ela morou na França com a família antes de mudar para cá. ?Cheguei a criar com um amigo a ?quarta-feira cultural?. Esse dia da semana era reservado para a gente ir a exposições, leilões de arte, cinema. Durou até ele se casar.? Mas ela mantém a trajetória. ?Adoro descobrir lojas. É uma forma de me manter atualizada, até porque meu trabalho às vezes exige que eu dê dicas de decoração?, explica ela, que se define como consultora de glamour (veja dicas de alguns de seus lugares preferidos depois da galeria de fotos). E, à medida que a moradora se atualiza, seu apartamento também, com pequenas mudanças de disposição e cores. A última foi há quatro anos, quando ela inverteu os sofás para deixá-los paralelos à janela e levou a estante para a outra parede, onde o móvel parece ter sido feito sob medida: ?Ele coube milimetricamente?. Com tudo dando certo, Micaela resolveu ousar um pouco mais, pintando as paredes de magenta, a mesma cor que havia notado na flor de uma fronha. ?Encomendei uma tinta no mesmo tom. Como ela apareceria em alguns recortes da estante, pintei as duas paredes, sem risco de exagerar no colorido.? Ainda na sala, ela reuniu outros objetos bem personalizados. Caso da poltrona LC3, originalmente preta, que ganhou couro turquesa da loja Juliana Benfatti. A capa das almofadas era um tecido do estilista francês Daniel Hechter, que é primo de Micaela. ?Era para fazer um vestido, mas, depois de alguns anos, achei que não ficaria bem com uma estampa de xadrez.? Com tantos amigos artistas, Micaela pensa bem antes de comprar uma peça. Porém, quando decide, faz o que for preciso para trazer o produto escolhido para casa. Foi assim com o trenzinho, feito com material reciclado, comprado em Búzios. ?Vim com ele no colo a viagem inteira?, conta. Reforçando que a aquisição tinha o seu valor, a peça fica ao lado da fruteira de resina do prestigiado designer italiano Gaetano Pesce, em uma estante na sala de jantar. ?Para mim, as duas peças são iguais. Uma é de um senhor designer, e a outra, de um senhor de Búzios?, compara, brincando. Na cozinha, outra descoberta de Micaela tem o destaque que merece. Comprados em Paris, os panos de prato com desenho de talheres de prata foram emoldurados e ganharam ares de obra de arte ? só olhando bem de perto para perceber a trama do tecido. ?Isso prova que não é preciso gastar para ter glamour. O mais importante é ter objetos com vida.?     Por onde anda Micaela: "A Loja do Bispo é da Pink Wainer, que fuça coisas incríveis. Já a dona da Poeira é uma arquiteta portuguesa com muito bom gosto. As peças são de babar. No depósito da AGain encontram-se fantásticos tecidos a R$ 35 o metro. A loja de antiguidades da Juliana Benfatti também é imperdível. Assim como a da ceramista Kimi Nii, que tem objetos singelos, além de luminárias bem diferentes."

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