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Arquitetura, decoração e design

Constante mutação

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Por Ana Garrido
Atualização:

    Marcelo Lima ? O Estado de S.Paulo   No início da década de 1970, a designer italiana Cini Boeri revolucionou a indústria de móveis apresentando ao mundo um estofado diferente de tudo o que havia sido visto até então. Nada imponente ? e com estofamento e cobertura reduzidos a uma única capa ?, o primeiro sofá modular de que se tem notícia saía do forno, fazendo da flexibilidade sua principal bandeira. Isso, diga-se, em uma época em que a televisão não desfrutava do protagonismo dos dias de hoje. Um dos produtos mais aclamados da história do design, o sofá de Cini integra hoje o acervo de grandes museus do mundo. Mas está longe de ser um clássico. Permanece como um best seller da Arflex, empresa que detém seus direitos de fabricação. Afinal, como profetizou sua criadora, sentar é apenas parte do que se espera de um sofá. Especialmente hoje, quando eles têm de se desdobrar para acompanhar as novas tecnologias. ?Desenhei o C110 tendo em mente uma peça que estaria posicionada frente a um monitor de TV. É em torno dele, portanto, que se articulam todas as possibilidades de uso. Pode-se, por exemplo, se sentar no braço, cobrir o nicho existente com uma almofada para receber mais pessoas ou acoplar uma estante no lugar dela e acomodar os controles?, comenta Marcus Ferreira, designer brasileiro à frente da Decameron e da Carbono. Além disso, o móvel pode vir acompanhado de pufes, estantes ou almofadas avulsas. Tudo para ampliar as opções de uso em diferentes situações. ?Os equipamentos de áudio e vídeo ocupam o centro das atenções, quer estejamos em um home theater ou na sala de estar. Por isso, meu sofá procura atender tanto ao espectador solitário, que apoia a cabeça em seu braço, ou o grupo de amigos, que se senta para conversar?, diz Ferreira. Confirmando a tese, um breve olhar sobre as novidades apresentadas na edição 2012 do Salão do Móvel de Milão, a principal vitrine internacional do setor, não deixa maiores dúvidas: a parceria entre sofás e equipamentos audiovisuais veio mesmo para ficar, cabendo a designers e fabricantes a tarefa de azeitar tal relação. Da forma mais simples, confortável e original possível. Uma necessidade urgente, que parece não ter passado despercebida a ninguém. Da moderninha Diesel by Moroso, com seu Clish Clash, à sisuda Vitra, que surpreendeu a todos com Maharam Polder: um sofá produzido em tiragem limitada, que leva a assinatura da holandesa Hella Jongerius e foi concebido como uma reminiscência das paisagens planas (polders) da terra natal da designer. ?Os elementos estofados sugerem a topografia de Flandres. As cores e materiais, suas condições meteorológicas. O horizonte surge forrado por muitas almofadas?, sintetiza ela. Entre os lançamentos, Ray, o sistema de assentos desenhado pelo italiano Antonio Citterio para a B&B Maxalto, um sucesso de vendas desde seu lançamento em 2010, reapareceu turbinado por três novos componentes: uma chaise ?lounge?? denominação que indica a parte mais longa do estofado, desenhada para permitir o esticar das pernas ?, um apoio adicional e um banco. Outra especialista na área, a Zanotta, que assina, por exemplo, o clássico Domino ? sofá modular desenhado pelo estúdio EMAF, em 2008 ? apresentou Pianoalto (ou planalto, em italiano). Mais um móvel que faz referência direta à geografia e traz como principal trunfo a variedade de elementos estofados ? monoblocos, pufes ou almofadas ? que podem ser livremente combinados para acomodar um número variável de ocupantes. ?Procuramos criar um sistema de espaços cheios e vazios, que intercala superfícies extensas, de diferentes profundidades. Grandes áreas estofadas que pairam sob o chão como aviões?, resumiu Roberto Palomba, que assina o projeto em parceria com a mulher, Ludovica. Um móvel, segundo eles, construído sob medida para se ajustar aos momentos de lazer sobrepostos, simultâneos, que vivemos hoje. ?Ao mesmo tempo em que assistimos à nossa série favorita na TV, checamos as notícias no tablet, falamos ao celular, tomamos um drinque e recebemos um amigo. Mais do que nunca, o sofá não pode ser um móvel estático. Ele tem de ser obrigatoriamente dinâmico e multifuncional?, comenta Palomba. ?Nosso projeto procura contemplar o habitante deste mundo novo, mutante e eclético, que impõe ao desenho do sofá modalidades de uso até então inéditas.? ?A cada instante, as pessoas parecem estar vivendo mais do que uma vida. Elas têm a capacidade de mudar de interesses em segundos, enquanto se mantêm centradas em si mesmas. E o mais impressionante é a velocidade com que passamos de uma situação a outra?, diz Palomba. Segundo ele, Pianoalto é retrato desse momento. Mas de nenhuma forma se propõe a esgotar o assunto. ?O que não temos dúvida é de que será em torno do sofá que por muitos anos ainda, a vida doméstica vai girar. Animada por muitos e diferentes personagens?, conclui.    

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