- Compre um tênis comigo que eu voto em você.
- Isso é crime!
- Mas fica entre a gente. Segredo nosso...
Tive essa rápida e reveladora conversa com a vendedora de uma loja de tênis durante o meu primeiro corpo a corpo como Candidato Acidental.
Além da simpática vendedora, teve eleitor querendo vender o voto por uma cervejinha. "Paga uma gelada aí, candidato. Mostra que você é firmeza."
Acho que só um filósofo dos bons vai poder explicar essa falta de pudor do cidadão em tentar levar alguma vantagem (por menor que seja) daquele que, de acordo com o senso comum, irá levar muita vantagem durante os próximos quatro anos. É como se o eleitor dissesse: "Você me deve essa cervejinha, esse tênis...".
Ainda sobre esse toma lá da cá eleitoral, um garoto, aparentando uns 13 anos, me abordou e disse que por apenas R$ 10 entregaria os meus santinhos pela vizinhança. Neguei a oferta e ganhei a dúvida sobre a seriedade da minha mãe em retribuição.
Aliás, o fato de o próprio candidato distribuir seus santinhos causou uma certa celeuma entre cabos eleitorais de um candidato a prefeito. "O senhor tem de contratar alguém pra isso. É a nossa hora de ganhar dinheiro. A sua vem depois", disse uma senhora que estava trabalhando na panfletagem de um famoso político.
Mas nem tudo estava perdido: um morador de rua ofereceu-se, sem cobrar um tostão, para entregar meus santinhos. Como ele era do tipo que falava sozinho e tinha cara de bravo, dei uns 10 panfletos para o sujeito. Observei o homem abordar alguns pedestres - que, invariavelmente, desviavam ou aceleravam o passo. Sem conseguir atenção de ninguém, ele atirou meus santinhos para o alto. Não contente, pisou em cima.
Não foi uma cena bonita de se ver. Minha cara, ali, pisada e repisada no chão.
No corpo a corpo, pude notar reações clássicas. Por exemplo, educação e indiferença são coisas que se misturam. A maioria dos eleitores aceita receber o santinho, dá um sorriso e finge interesse. Mas, meio segundo depois, amassa ou deixa o papelzinho com o nome e o número do candidato de lado. Tem aqueles que também não disfarçam a cara de desprezo (e até nojo).
Lógico que ouvi algumas reações mais indelicadas: "Bando de ladrão" e "cambada de filho da p..." foram as mais comuns. Tentei não me abalar. Me mantive impassível. Sou um candidato com sangue de barata.