Andei outro dia pelo sertão de João Cabral de Melo Neto. Vi o poeta na curva da esturricada caatinga, no umbu, no xique-xique, no mandacaru. Mestre João, operário da palavra exata, crua. Em "O Hospital da Caatinga", brilha como fio de faca.
A caatinga de João é "hospital", ortopédico, a curar o atrofiado, o informe, o torto - sujeitos que povoam o deserto. Paus curvos (como Van Gogh) e pontiagudos (como João Cabral) buscam vida nas frestas dos raios do sol - até cansar.
Em "Bifurcados de 'habitar o tempo", a caatinga pernambucana do poeta João "ata a imaginação", prende-a;e "fere com seu vazio em riste".
Em "Pernambuco em mapa", João prega altivez,como um mandacarua dar uma "banana/a todos que do Sul/olham-no do alto da mandância."
Salve João Cabral de Melo Neto!!!
(Poemas citados estão no livro "A educação pela pedra e depois", Editora Nova Fronteira, 1997)