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Histórias de São Paulo

As dores de Santa Maria

Por Pablo Pereira
Atualização:

Neste dia 27 de fevereiro faz um mês que viajei às pressas para Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, para a reportagem mais difícil e pesada destes meus 26 anos de vida de jornalista. Era a cobertura do incêndio na boate Kiss, tragédia que numa só madrugada matou 234 pessoas queimadas e/ou sufocadas no que deveria ser uma noite de festa de gente jovem, de turmas e turmas de universitários.

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As reportagens daquele mergulho no drama profundo de famílias chocadas foram publicadas no Estado no conjunto de notícias também redigidas por colegas que compuseram uma competente cobertura jornalística de um dos fatos mais traumáticos da juventude brasileira. Outras vítimas morreriam em hospitais nos dias seguintes, estendendo a dor das famílias.

Que sofrimento tiveram aquelas pessoas. Algumas delas com perdas múltiplas. Como dona Elaine Marques Gonçalves, cujo caso acompanhei naquela semana, que enterrou dois de seus rapazes no período de 3 dias. Por mais que os relatos da imprensa tenham sido fiéis aos fatos daquele domingo tenebroso e aos dezenas de sepultamentos que marcaram a cruel segunda-feira, jamais terão os jornalistas chegado perto do que aconteceu no íntimo daquelas pessoas.

Que dor, que golpe terrível para pessoas como a senhora de 61 anos, uma batalhadora na criação dos seus herdeiros, que viu, em algumas horas, morrer metade de sua família.

Naqueles dias, confesso, pensei muito no meu filho, que tem 19 anos, é estudante e, como grande parte dos rapazes e moças atingidos pelo mortífero fogaréu, adora uma balada no final de semana. Milhões de jovens frequentam casas noturnas como aquela que pegou fogo. Milhões de pais e mães ficam com o coração na boca em noite de balada. Que terríveis acontecimentos aqueles que abreviaram vidas e privaram famílias da maravilha que é o rico convívio com a juventude.

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No enorme tumulto que envolveu dezenas, centenas, de parentes com suas perdas irreparáveis, vi de perto - repito, vi, porque sentir como eles não era possível - como a tragédia mudou para sempre o rumo de tanta gente. Vão viver com um punhal cravado no peito, e que jamais de lá será retirado. E eu jamais vou esquecer da dor que vi.

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