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A reconstrução do Santos

Posso estar enganado, mas tenho a impressão de que o Santos consumirá o resto de 2010 na tentativa de se reconstruir para 2011. Depois do vendaval caso Neymar-saída de Dorival, muita coisa ainda ficará para ser cicatrizada.

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

O próprio caso ainda é obscuro e levará algum tempo para ser esclarecido, se é que será algum dia. Ninguém sabe direito quais são as parcelas de responsabilidade da diretoria e do próprio treinador. A responsabilidade de Neymar é clara. Ele errou, já havia sido punido e o caso deveria ter sido encerrado sem maiores traumas. Não foi assim, por intolerância, inexperiência ou oportunismo das partes. Veremos o que acontece daqui para a frente.

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Encerrado o atual processo de canonização de Dorival Jr. e demonização de Neymar, será preciso fazer algumas coisas.

Uma delas, recuperar a imagem do jogador diante da opinião pública. Certa imprensa conservadora (e parte da torcida) jamais lhe tolerou a irreverência. Parece coisa de gente bagunceira, que deve ser reprimida. Tampouco engoliu o fato de o jogador ter resolvido ficar no Brasil ao invés de ir para a Inglaterra, pois isso significa uma quebra de expectativa - "O Brasil é um país que não presta e deve ser deixado o mais rápido possível por quem pode fazê-lo". Ou: "não se chuta um monte de dinheiro imediato, porque isso é contra a natureza das coisas". Nada disso se perdoa e a torcida contra é enorme.

Neymar, se quiser ser viável em termos midiáticos (brasileiros) deve ser reconduzido ao redil, voltar a ser um rebelde sob controle. Ou seja, um rebelde que não perturbe o bom andamento dos negócios. Irreverência confiável - toda a estratégia de mídia e publicidade depende disso. Lembra um personagem de Gide: "adoro revoluções, desde que não pisem no meu gramado". Esse é um ponto.

O outro é propriamente futebolístico. Ao invés de sair loucamente atrás de um técnico, o Santos deveria reparar os estragos ocorridos ao longo do ano - ninguém perde impunemente jogadores como André, Wesley, Robinho, e Ganso, este machucado. Será preciso repor. E repor pensando em reconquistar aquela qualidade de jogo que se teve no primeiro semestre deste ano e se perdeu. Quer dizer, seria preciso primeiro pensar numa filosofia de jogo a ser adotada e depois sair atrás das peças (ou encontrá-las nas próprias categorias de base, Alan Patrick, por exemplo).

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Por fim, seria preciso garimpar por aí um técnico que aplique essa filosofia de jogo e combine autoridade com serenidade. Que entenda o poder como algo que lhe permita fazer algumas coisas boas e não como uma benesse a ser exercida em nome do próprio ego. Sei que é difícil encontrar. Mas, dada a ambição de fazer uma grande campanha na Libertadores do ano que vem, não vejo outra saída para o Santos senão começar esse processo de reconstrução desde já.

Pensando, repito, nem tanto em 2010 mas em 2011.

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