PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Os Hermanos

Ministro Axel Kicillof reloaded: Renunciou seu único rival dentro do governo Kirchner, o presidente do Banco Central, Juan Carlos Fábrega

Saída de Fábrega indicaria que governo Kirchner reclui-se a seu "núcleo duro". Toma posse do cargo um "Cristinista" (a versão reloaded do kirchnerismo)

Por arielpalacios
Atualização:

Presidente Cristina Kirchner e o ministro da Economia Axel Kicillof em recente cerimônia na Bolsa de Valores de Buenos Aires.Poder do ministro fica turbinado com a saída de Juan Carlos Fábrega da presidência do BC. Fábrega era o único rival de peso que Kicillof tinha na administração Kirchner.

PUBLICIDADE

Fábrega, que na adolescência fez o segundo grau na província de Santa Cruz com o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), era homem de confiança do casal presidencial há décadas. No entanto, seu estilo moderado entrou em rota de colisão com seu rival dentro do governo, o ministro da Economia Axel Kicillof, que a partir de agora não conta com concorrentes no gabinete Kirchner.

Fábrega será substituído por Alejandro Vanoli, presidente da Comissão Nacional de Valores (CNV), defensor da cruzada da presidente Cristina contra o dólar e do controle de empresas e mercados. Vanoli, que costuma comparar o mercado informal da divisa americana com o tráfico de cocaína, é definido como "Cristinista", denominação aplicada para os kirchneristas mais radicalizados.

Vanoli será o quinto presidente do BC desde que o casal Kirchner chegou ao poder em maio de 2003.

Juan Carlos Fábrega renunciou depois de várias divergências com o ministro Kicillof.

Publicidade

"MODERADO" - Fábrega pregava um uso moderado das reservas do BC, enquanto Kicillof era a favor de sua utilização sem restrições. Nesta semana as reservas do BC caíram para US$ 27,944 bilhões, volume que indica uma queda de US$ 2,65 bilhões desde o início deste ano. Desde janeiro de 2011, momento em que as reservas do BC atingiram seu recorde, com US$ 52,654 bilhões, a entidade monetária sofreu uma drenagem de US$ 24,710 bilhões, isto é, uma redução de 46,93% dos fundos da entidade monetária.

Por trás da redução das reservas está a política do governo de usar os fundos da entidade monetária para a guerra cambial, o pagamento dos títulos da dívida pública, a importação de energia elétrica e a manutenção de políticas clientelistas.

Em junho Fábrega respaldou a proposta de um grupo de banqueiros argentinos para comprar os títulos da dívida nas mãos dos "holdouts", denominação dos credores que não aceitaram as reestruturações da dívida pública feitas pelo governo Kirchner em 2005 e 2010. No entanto, a proposta foi derrubada pelo ministro Kicillof, que rejeita qualquer tipo de acordo com os "holdouts".

A gota d'água da tensa relação de Fábrega com o governo ocorreu na terça-feira à noite, quando a presidente Cristina, em rede nacional de TV, citou uma longa lista de "conspiradores" contra seu país. Entre os nomes citados estavam bancos argentinos, além de estrangeiros, entre os quais os brasileiros Itaú e Banco Patagônia (filial argentina do Banco do Brasil).

Segundo Cristina, no dia 2 de setembro, um dia antes do anúncio da decisão do governo de reduzir os ativos dos bancos na Argentina em dólares de 30% para 20% essas entidades financeiras tiveram "informação privilegiada" e venderam os dólares que possuíam. Cristina sugeriu que as informações dadas aos bancos teriam partido do BC comandado por Fábrega.

Publicidade

BANCOS - O chefe do gabinete de ministros, Jorge Capitanich, afirmou na quarta-feira que o governo punirá pessoas e empresas que realizem "ações especulativas" contra a Argentina. Capitanich sustentou que a CNV poderá retirar licenças de entidades financeiras para operar no mercado em caso de comprovação de atos ilícitos.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Fontes do Banco Itaú indicaram ontem ao Estado que a empresa "se colocou à disposição das entidades fiscalizadoras argentinas". As fontes destacaram que "todas as operações foram feitas dentro da legalidade".

Horas antes da renúncia de Fábrega, fontes do mercado financeiro indicaram ao Estado que a presidente argentina não pretenderia gerar problemas com duas empresas do principal sócio do Mercosul, governado por uma aliada de Cristina, principalmente porque o Banco Patagonia é do estatal Banco do Brasil. "Isso seria uma loucura, já que a presidente argentina estaria acusando o Estado brasileiro de puxar seu tapete na área cambial. Tudo indica que estas empresas - bem como os outros bancos - estão sendo usados como forma de bater em Fábrega, que possui uma relação de conflito com o favorito de Cristina, o ministro Kicillof", indicaram as fontes em off.

BRASILEIROS - O Banco Itaú deu seus primeiros passos na Argentina com filiais próprias em 1995. Mas, a grande expansão foi propiciada pela compra do Banco del Buen Ayre em 1998. O banco teve sucesso imediato no país, já que contava com uma infraestrutura de caixas eletrônicos que seus rivais locais não possuíam.

A chegada do Banco do Brasil ocorreu em 2010, quando o estatal brasileiro adquiriu o controle do Banco Patagonia entidade que conta com boa reputação no mercado argentino, pois passou incólume pela crise financeira de 2001-2002. Depois dos conturbados anos das turbulências econômicas o Patagonia - com boa relação com o governo do casal Kirchner - expandiu-se com a compra das filiais locais do Lloyds TSB e do Sudameris. Nos meses de negociações com o Banco do Brasil o banco realizou um profundo processo de "saneamento".

Publicidade

Ao longo dos últimos anos o governo Kirchner disparou críticas contra produtos brasileiros exportados para a Argentina. No entanto, raramente criticava as empresas brasileiras instaladas no país. Um dos raros casos é a Petrobrás, que periodicamente é alvo de pressões por parte da Casa Rosada.

A presidente Cristina Kirchner em uma das varandas internas da Casa Rosada, enquanto cumprimenta a militância kirchnerista.

'GOLPISMO ATIVO' - Na terça-feira, em rede nacional de TV, a presidente Cristina, em um longo discurso, além de acusar os bancos, disparou críticas sobre supostos "conspiradores" contra a Argentina. Na lista, além da embaixada dos Estados Unidos, o juiz federal de Manhattan Thomas Griesa, os "holdouts", a imprensa, os exportadores agropecuários e os partidos da oposição. Ontem, o ministro Capitanich sustentou que existe uma "quinta-coluna" operando contra a Argentina. Segundo ele, empresários, economistas e a imprensa "mentem o tempo todo, interpretando de forma errada estas questões". O ministro sustentou que esses setores protagonizam o que denominou de "golpismo ativo".

Uma das líderes da oposição, a deputada Elisa Carrió, da Coalizão de centro-esquerda "UNEN", indicou que a presidente Cristina "inventa conspirações perante a impotência como governante" e "padece de delírios". Carrió, famosa desde os anos 90 por suas investigações sobre casos de corrupção de vários governos, sustentou que Cristina "não resiste à realidade do desemprego, da alta inflação e do dólar disparado".

LEI DE MERCADOS DE CAPITAIS - O novo presidente do BC estimulou em 2012 a criação da lei de mercado de capitais, que permite que a Comissão Nacional de Valores possa designar (de forma unilateral) auditores em empresas que são cotadas na Bolsa de Valores de Buenos Aires, além de intervir pelo prazo de 180 dias as diretorias que administram as companhias. A legislação permite que acionistas minoritários solicitem à CNV essa intervenção. Um dos objetivos da lei era a possibilidade de intervir no Grupo Clarín, já que o próprio Estado argentino é acionista do "Clarín" (embora minoritário), pois conta com ações do grupo desde que estatizou os Fundos de Pensões em 2008.

Publicidade

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra). Em 2013 publicou "Os Argentinos", pela Editora Contexto, uma espécie de "manual" sobre a Argentina. Em 2014, em parceria com Guga Chacra, escreveu "Os Hermanos e Nós", livro sobre o futebol argentino e os mitos da "rivalidade" Brasil-Argentina.

No mesmo ano recebeu o Prêmio Comunique-se de melhor correspondente brasileiro de mídia impressa no exterior.

 
 

E, the last but not the least, siga @EstadaoInter, o Twitter da editoria de Internacional do Estadão.

 

......................................................................................................................................................................

Comentários racistas, chauvinistas, sexistas, xenófobos ou que coloquem a sociedade de um país como superior a de outro país, não serão publicados. Tampouco serão publicados ataques pessoais aos envolvidos na preparação do blog (sequer ataques entre os leitores) nem ocuparemos espaço com observações ortográficas relativas aos comentários dos participantes. Propaganda eleitoral (ou político-partidária) e publicidade religiosa também serão eliminadas dos comentários. Não é permitido postar links de vídeos. Os comentários que não tiverem qualquer relação com o conteúdo da postagem serão eliminados. Além disso, não publicaremos palavras chulas ou expressões de baixo calão (a não ser por questões etimológicas, como background antropológico).

Publicidade

 
 
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.