PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Os Hermanos

Desemprego cresce na Argentina (e ministro afirma que empresários precisam um psicólogo)

Problemas econômicos? Não, problemas psicológicos, segundo o ministro da Economia.

Por arielpalacios
Atualização:

Problemas econômicos? Não, problemas psicológicos, segundo o ministro da Economia.

PUBLICIDADE

Embalado pela recessão que afeta a Argentina, o volume de demissões, suspensões e férias coletivas está crescendo de forma persistente no país, atingindo principalmente os setores automotivo e da construção civil; Segundo a União de Operários da Construção Civil (Uocra), as empresas da área - que foram prejudicadas desde 2011 pelas restrições sobre o dólar (as operações do setor foram tradicionalmente desde o final dos anos 70 na moeda americana) - demitiram 20 mil operários desde o início do ano. A construção civil registra quedas consecutivas há dez trimestres.

O setor automotivo - prejudicado pela queda das exportações ao mercado brasileiro - já realizou 12 mil demissões, aposentadorias antecipadas e suspensões de operários.

O governo da presidente Cristina Kirchner - por intermédio do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), organismo famoso desde 2007 por camuflar os índices de inflação, pobreza e PIB - afirma que o desemprego atualmente atinge 7,1% da população economicamente ativa da Argentina, o equivalente a 1,2 milhão de pessoas.

No entanto economistas independentes sustentam que o desemprego real seria de 8% a 9%. Alguns analistas indicam que, por causa do calote argentino com os credores reestruturados com títulos com jurisdição nos Estados Unidos, a Argentina poderia sofrer um desemprego de até 10,3% neste ano. "O calote aumentaria o índice de desemprego, já que provocaria mais restrições sobre importações em bens de capital e insumos", ressalta o economia Pablo Schiaffino, coordenador do Centro de Investigações da Universidade de Palermo.

Publicidade

Segundo uma pesquisa elaborada pelo Indec, 70% das empresas declararam que não realizaram contratações no segundo trimestre deste ano. No entanto, no setor industrial, a proporção de empresários que não pensam contratar novas pessoas sobe para 95,5%.

O governo, para tentar driblar uma escalada do desemprego, anunciou na sexta-feira um sistema subsídios estatais, o Programa de Integração Trabalhista, com o qual o Estado argentino pagará até a metade do salário dos novos funcionários que as empresas privadas contratem. Esta assistência estatal beneficiará tanto pequenas como grandes empresas. O objetivo do governo é o de conseguir nos próximos doze meses a contratação de 800 mil pessoas.

No entanto, o setor sindical considera que a presidente Cristina Kirchner "traiu" os "ideais peronistas" de proteção dos trabalhadores e ameaça com greves.

O secretário adjunto do sindicato dos caminhoneiros, Pablo Moyano, filho de Hugo Moyano, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), declarou que "nos próximos dias" essa central sindical, a maior do país, definirá a data de realização de uma greve geral. A CGT "rebelde", que rachou com o governo Kirchner há dois anos, está coordenando uma paralisação em todo o país com a ala dissidente da Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA).

"PÁTRIA OU ABUTRES" - Na 5afeira a agência qualificadora Moody's reduziu o panorama de "estável" para "negativa" mais de vinte empresas instaladas na Argentina, entre elas a estatal petrolífera YPF, além de companhias de seguros e sociedades de garantias recíprocas. Por trás desta redução está a situação argentina de calote "parcial" ou "seletivo", já que o país não pode entregar no dia 30 de julho os US$ 539 milhões que devia aos credores que possuem títulos reestruturados Discount. O depósito foi impedido pelo juiz federal de Manhattan, Thomas Griesa, que sustenta que se a Argentina deseja pagar os credores reestruturados também terá que pagar os "holdouts", denominação dos donos de títulos da dívida que não aderiram às reestruturações feitas pelo governo Kirchner em 2005 e 2010 e que exigem o pagamento de US$ 1,33 bilhão da Argentina.

Publicidade

Segundo a Moody's, "o calote argentino debilita mais ainda a economia do país".

PUBLICIDADE

Na contra-mão, enquanto o panorama de diversas empresas na Argentina caem por causa do clima de calote, a popularidade da presidente Cristina sobe devido ao confronto com os "holdouts", aos quais o governo Kirchner chama de "abutres".

Isso é o que indica uma pesquisa elaborada pela consultoria de opinião pública Management & Fit, que sustenta que a aprovação popular da presidente, que estava em 25,5% em junho agora é de 32,4%. A desaprovação de Cristina caiu de 66,5% para 57,6%.

Enquanto isso o governo Kirchner prepara os últimos detalhes de um comício que realizará nesta terça-feira à noitinha no estádio coberto Luna Park, no centro da capital do país, que reunirá militantes para protestar contra os credores que levaram a Argentina aos tribunais com o slogan "Pátria ou Abutres".

PSICÓLOGO - Na semana passada o presidente da União Industrial Argentina (UIA), Héctor Méndez, reclamou das críticas do governo Kirchner que indicaram ao longo da semana que os empresários argentinos invistam mais. "Nós, empresários, somos os que trabalhamos. Somos os mesmos que antes fizeram que o PIB tivesse um crescimento de 7% anual. Mas os investimentos são dinheiro. E o dinheiro requer condições. E se as condições não existem, não posso obrigar ninguém que invista".

Publicidade

Segundo Méndez, o cenário de calote complica as expectativas. Além disso, sustentou, com a atual cotação do dólar as empresas argentinas "não podem exportar sequer um caramelo". Méndez indicou que "não dá para investir se não podemos trazer insumos de fora", em alusão às barreiras para as importações. "Dá para importa fácil? Não. Dá para enviar remessas às matrizes no exterior? Não. Esse é o clima de negócios há tempos. O calote ainda veio depois...".

O ministro da Economia, Axel Kicillof, visivelmente irritado com as críticas disparadas pelo líder industrial, negou que o confronto com os "holdouts" esteja afetando o clima de negócios. Kicillof afirmou que os empresários que sustentam que não existem condições de investimento deveriam "ir ao psicólogo".

Nesta segunda-feira secretários do governo e líderes industriais reuniram-se para tentar colocar panos quentes nos quiproquós entre ambos lados.

 
 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra). Em 2013 publicou "Os Argentinos", pela Editora Contexto, uma espécie de "manual" sobre a Argentina. Em 2014, em parceria com Guga Chacra, escreveu "Os Hermanos e Nós", livro sobre o futebol argentino e os mitos da "rivalidade" Brasil-Argentina.

 
 

E, the last but not the least, siga @EstadaoInter, o Twitter da editoria de Internacional do Estadão.

Publicidade

 

......................................................................................................................................................................

Comentários racistas, chauvinistas, sexistas, xenófobos ou que coloquem a sociedade de um país como superior a de outro país, não serão publicados. Tampouco serão publicados ataques pessoais aos envolvidos na preparação do blog (sequer ataques entre os leitores) nem ocuparemos espaço com observações ortográficas relativas aos comentários dos participantes. Propaganda eleitoral (ou político-partidária) e publicidade religiosa também serão eliminadas dos comentários. Não é permitido postar links de vídeos. Os comentários que não tiverem qualquer relação com o conteúdo da postagem serão eliminados. Além disso, não publicaremos palavras chulas ou expressões de baixo calão (a não ser por questões etimológicas, como background antropológico).

 
 
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.