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Os Hermanos

Ranking dos carnívoros planetários: argentinos caem para o 2º lugar

 

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Por arielpalacios
Atualização:

Uruguaios acabam de ocupar a pole position mundial de consumo de carne bovina per capita. Argentinos, os maiores 'carnívoros' da turma de Homo Sapiens durante mais de um século, ficaram sem segundo lugar no pódio da bovinofagia. Acima, um exemplar de Bos taurus, simpático e apetitoso integrante da família dos Bovidae. O 'bos'aqui ilustrado é do espanhol Pablo Picasso (gravura de 1945).

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BOVINÓFAGOS EM RECUO - Segundo a Câmara da Indústria e Comércio de Carnes da Argentina (CICCRA) o consumo de carne bovina per capita caiu dos 68, 1 quilos registrados em 2009 para uma média de 56,7 quilos nos primeiros seis meses deste ano.

Desta forma, o primeiro posto no pódio passou para o vizinhos uruguaios. Beatriz Luna, assessores de imprensa do Instituto Nacional de Carnes do Uruguai (INAC) disse ao Estado que o consumo per capita de carne bovina no Uruguai neste ano é 58,2 quilos, isto é, um quilo e meio a mais do que os argentinos.

Por trás da queda do consumo da carne bovina na Argentina - 16,7% em relação ao ano passado - está o sideral aumento dos preços, de 60%, registrado desde janeiro deste ano. Esse aumento acumula-se à alta de 180% entre janeiro de 2007 e dezembro de 2009.

Os quadrúpedes estão aqui ilustrados pelo holandês Vicent Van Gogh.

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"O governo aplica uma política anti-pecuarista elaborada por um incompetente funcionário", afirmou a Ciccra nesta semana em um comunicado que faz alusões indiretas ao secretário de Comércio, Guillermo Moreno, conhecido no Brasil por ordenar verbalmente proibições contra a entrada de alimentos não frescos importados.

Em meio ao conflito que mantém há vários anos com os produtores agropecuários, a presidente Cristina retruca as críticas dos ruralistas, chamando-os de "golpistas" e de pretender "lucros abusivos".

Ambas administrações Kirchners aplicaram uma controvertida redução das exportações com o objetivo de redirecionar o produto para o mercado interno, e assim, forçar a queda de seu preço. No entanto, segundo a CICCRA, "apesar da intervenção estatal para garantir o abastecimento doméstico e controlar os preços da carne, a queda da oferta de gado provocou uma escalada de preços ao consumidor desde o início de 2010".

Sem estímulo, os pecuaristas estão investindo menos no setor. Segundo a CICCRA, o abate registrou em junho uma queda de 30,7% em comparação com o mesmo mês do ano passado. No primeiro semestre de 2010, a redução do abate foi de 22,4% em relação ao mesmo período de 2009.

Um típico 'asado' em pleno Pampa. Esta cena ainda é muito frequente. Mas, cada vez menos.

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A queda das exportações em valor foi de 20,9%, passando de US$ 732,5 milhões na primeira metade de 2009 para US$ 579 milhões no primeiro semestre de 2010.

A perda argentina da pole position no ranking mundial de consumo de carne - e a queda da produção interna - está sendo acompanhada da importação de carne do Uruguai. Segundo o INAC, a Argentina "é um bom nicho para colocar a carne uruguaia".

Noé, famoso neto de Matusalém e supostamente o construtor do primeiro transatlântico. E além disso, carnívoro com a permissão divina. "Tudo que vive e se move vos servirá de comida" (Gênesis 9:3-6, de acordo com a tradução da Bíblia pela Editora Vozes) teria dito Deus a Noé. Acima, quadro do pintor conhecido como Französischer Meister (O Mestre Francês), de 1675. O quadro está exposto em Budapeste, no Magyar Szépmüvészeti Múzeum.  

No entanto, perante o aumento dos preços da carne bovina, a própria presidente Cristina envolveu-se pessoalmente em uma campanha para tentou desviar o consumo dos argentinos para a carne suína, atribuindo-lhe poderes afrodisíacos, que, segundo disse, comprovou com seu próprio marido em um fim de semana de arromba em El Calafate, província de Santa Cruz, após degustar um leitão da província de Córdoba (*). Além disso, Cristina Kirchner também alardeou os valores da carne de frango para as mulheres argentinas que pretendem fazer regime.

* Na prática, o casal Kirchner violou a lei, já que as normas fitossanitárias argentinas impedem que a carne de leitão produzida em Córdoba possa entrar na zona sul do país, isto é, a Patagônia.

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As vacas, presentes até no nome de um vinho argentino, o "Quatro vacas gordas".

Nota de cinco pesos emitida em 1869 pela província de Buenos Aires. A efígie é a de algum herói da independência ou de um caudilho do momento? Que nada! A homenageada é a vaca, essa heroína nacional.

- As primeiras vacas que entraram na Argentina, em 1580, vieram do Paraguai. Estas - sete vacas e um touro da raça holandesa - haviam vindo da Espanha em 1555, atravessando o estado brasileiro de Santa Catarina, levadas aos pastos paraguaios pelos irmãos portugueses Scipião e Vicente Góes.

- Em 1969 o consumo de carne bovina per capita argentino chegou a seu recorde, de 100 quilos anuais.

- Ao longo do século vinte a carne e o trigo foram símbolos da Argentina no mundo.

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- Ao longo do século vinte, as crianças argentinas não escreviam a clássica redação "Minhas Férias" (como ocorria no Brasil). A redação por excelência era "La Vaca" (A Vaca), na qual o quadrúpede era exaltado pelos estudantes por sua carne e couro, como fonte da riqueza argentina. 

- Em 2002, no meio da maior crise da História argentina, o consumo foi de 51 quilos per capita (o mais baixo desde 1914, ano em que o consumo começou a ser medido).

- Política do governo Kirchner com setor pecuário provocou alta de preços e queda drástica de consumo do principal quitute gastronômico argentino.

- Consumo per capita argentino em 2009 foi de 68,1 quilos, o mais alto do mundo. Nos primeiros seis meses deste ano despencou para 56,7 quilos.

- Uruguaios ostentam atualmente a pole position do consumo de carne mundial, com 58,2 quilos per capita.

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Touro, tão adorado em Creta que até surgiu ali a lenda do Minotauro. Mural no palácio de Cnossos.

Neste caso trata-se de uma animada melodia do batuta compositor francês Darius Milhaud (1892-1974. Na verdade, trata-se de uma desculpa minha para falar sobre Milhaud, já que estamos falando de bifes, bois e vacas. "Le boeuf sur le toit" (O boi no telhado) é uma das mais conhecidas composições de Milhaud, que foi adido na Embaixada da França no Rio de Janeiro entre 1917 e 1919. Ele voltou para a França empapado de ritmos sul-americanos, principalmente brasileiros. Em 1922 foi aos EUA, onde também absorveu os ritmos do jazz.

Le boeuf sur le toit (O boi no telhado) com o "AlmaViva Ensemble", em apresentação em Paris. O link do Youtube, aqui.

O "AlmaViva Ensemble" foi criado em 2003 por um grupo de músicos argentinos radicados na França. O site do grupo, dedicado à música de câmara latino-americana (ou com um touch latino-americano, como o caso de Milhaud), aqui.

E o AlmaViva, neste vídeo, tocando "Adiós Nonino", de Astor Piazzolla. O link, aqui.

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E voltando à vaca fria, isto é, ao boi, de brinde, um detalhado ensaio de Daniella Thompson sobre como o boi foi parar em cima do telhado. Aqui.

Darius Milhaud, com plácido olhar bovino. O autor de "Le boeuf sur le toit".

Casero foi citado no ano passado na postagem sobre o batman portenho, o "Juan Carlos Batman". Aqui.

E além disso, uma paródia de Casero sobre a bossa nova, "O Gato não suporta a radiação". Em portunhol, comme il faut, com legenda em espanhol... aqui.

Em 1970 instalaram-se na Argentina (país para onde voltaram várias vezes). Em 1972, com o início do fim do regime de Franco, voltaram à Espanha.

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Gaby, Fofó, Miliki (e Fofito, um dos filhos, neste vídeo) cantam "La vaca lechera" (A vaca leiteira), um hit parade das canções infantis durante mais de meio século no mundo hispano-falante. O link, aqui.

A letra:

Tengo una vaca lechera,

no es una vaca cualquiera,

me da leche merengada,

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ay! que vaca tan salada,

tolón , tolón, tolón , tolón.

Un cencerro le he comprado

Y a mi vaca le ha gustado

Se pasea por el prado

Mata moscas con el rabo

Tolón, tolón

Tolón, tolón

Qué felices viviremos

Cuando vuelvas a mi lado

Con sus quesos, con tus besos

Los tres juntos ¡qué ilusión!

A letra da canção foi composta pelo espanhol Jacobo Morcillo Uceda, em 1946. Uceda era um sobrevivente da Divisão Azul, o grupo de milhares de soldados que o general e ditador da Espanha, Francisco Franco, enviou aos campos de batalha da Rússia, para lutar ao lado das tropas nazistas.

Depois da guerra, Uceda dedicou-se à publicidade. Ele compôs a letra de La vaca lechera enquanto viajava em um trem de Madri à Galícia. Uceda não era músico, mas ficou assobiando a melodia que havia bolado durante horas, até que desceu do trem e foi procurar às pressas um parente seu, o maestro García Morcillo, a quem removeu pelo braço de um ensaio que estava dirigindo. A melodia, apresentada no Teatro Jai de Madri, foi um sucesso. Uceda acompanhou a apresentação tocando um sino de vaca.

Um dia, o ginecologista de sua esposa lhe pediu um favor: "ouça meu filho cantar". Uceda o ouviu e ajudou o rapaz a dar seus primeiros passos na carreira musical. O ginecologista era Julio Iglesias Puga, pai do posteriormente cantor Julio Iglesias.

O autor da letra de La vaca lechera morreu aos 87 anos em 2004 em Madri. 

"No decir ni mu" (Nem dizer sequer mu): expressão usada em espanhol para indicar que a pessoa fica caladinha e sequer se atreve a dar um mugido. Exemplo: "Juan le gritó a Carlos... y Carlos no dijo ni mu" (João gritou com Carlos... e Carlos nem disse mu).

Sobre não dizer sequer um 'mu', aqui está a tira do cartunista chileno Alberto Montt. Seu engraçadíssimo site, aqui.

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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