O então presidente Carlos Menem e o então jogador Diego Armando Maradona - grandes amigos - posam juntos durante um jogo em estádio em Buenos Aires. Menem gostava de exibir supostos dotes esportivos. Maradona apreciava a paparicação de Menem, sobre quem tecia elogios rasgados.
No âmbito político fontes indicam que por trás desta decisão estaria a "síndrome de Menem", alusão à fama de pé-frio do ex-presidente Carlos Menem (1989-99), que viajou à Itália em 1990, para presenciar o jogo de abertura da Copa, no qual a Argentina - considerada a favorita na época - enfrentava a seleção de Camarões no estádio Giuseppe Meazza de Milão. Aquele jogo terminou com a derrota argentina por um a zero (graças a um gol feito cinco minutos antes do encerramento do jogo).
Na ocasião, a fama de Menem como fonte de azar espalhou-se na opinião pública a tal ponto que o presidente - semanas depois - não compareceu à final dessa Copa, na qual a Argentina confrontou-se com a Alemanha. Menem, fanático pelo futebol, optou por enviar seu irmão, o senador Eduardo Menem. O resultado estendeu a fama de pé-frio à toda a família Menem: Alemanha campeã mundial, Argentina vice.
Desta forma, no último quarto de século, por via das dúvidas, nenhum presidente argentino jamais voltou a estar presente em uma Copa do Mundo.
Em 2010 a presidente Cristina Kirchner e os ministros de seu gabinete optaram por não colocar seus pés na África do Sul nas primeiras fases da Copa, embora a Argentina estivesse entre as favoritas, o técnico fosse Diego Armando Maradona e as transmissões dos jogos, estatizadas em 2009, contassem com publicidades somente destinadas a elogiar a administração Kirchner. O casal presidencial temia ficar vinculado a uma eventual derrota da seleção nacional.
VIZINHO - A proximidade geográfica com o Brasil (que permitiria viajar para ver um jogo e voltar no mesmo dia), além dos laços com sócio do Mercosul, não entusiasmaram líderes da oposição e aliados do governo, inclusive potenciais presidenciáveis como o deputado Sergio Massa (líder da ala peronista "Frente Renovadora") e o governador bonaerense Daniel Scioli (virtual candidato de Cristina no ano que vem) não irão à Copa.
Scioli se resignaria somente a despedir-se da seleção argentina, que fará um amistoso antes de partir para o Brasil na capital bonaerense, La Plata, contra a Eslovênia. Seu rival Massa, por enquanto, nada confirma sobre uma eventual viagem ao Brasil, embora admita que conta com entradas que ganhou de um amigo para ver o jogo contra a Nigéria, em Porto Alegre.
O único que prometeu ir ao Brasil é o prefeito portenho Maurício Macri, do partido Proposta Republicana (PRO), de oposição, que foi presidente do Boca Juniors no passado. Fanático pelo futebol, Macri não se importou com a "Síndrome de Menem" e assistirá o Argentina-Bósnia do dia 15 de junho, sentado ao lado de seu amigo Eduardo Paes. O prefeito também irá a Belo Horizonte para ver o embate contra o Irã, no dia 21 de junho.
Enquanto o prefeito viaja, seus assessores montarão em Buenos Aires mega-telões em diversas praças e parques para que os portenhos assistam ao ar livre os jogos da seleção.
"Mufa": Gíria argentina pra dizer que alguém é um mega-pé-frio.
"Jetattore": Palavra napolitana, mas adotada pelos argentinos, para indicar que alguém dá um baita azar por mau-olhado. Com frequência utiliza-se uma versão abreviada, "Yeta". Exemplo: "Carlitos es yeta. Guarda, eh!" (Carlinhos dá um baita azar. Fica de olho, hein!)
...Mais detalhes sobre as superstições futebolísticas argentinas, no livro que o Guga Chacra e eu lançamos em maio, "Os Hermanos e nós", da Editora Contexto.
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Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra). Em 2013 publicou "Os Argentinos", pela Editora Contexto, uma espécie de "manual" sobre a Argentina. Em 2014, em parceria com Guga Chacra, escreveu "Os Hermanos e Nós", livro sobre o futebol argentino e os mitos da "rivalidade" Brasil-Argentina.