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Monges do Mianmar

Sessão da Tarde, almoço, jogo de peteleco e rituais com os noviços birmaneses

Por Carol Da Riva
Atualização:

O Mianmar ficou fechado por décadas para o turismo por conta de uma ditadura malvada que custou a vida de milhares de pessoas.

Uma de suas maiores vítimas foi Aung Suu Kyi, a Nobel da Paz. Foto: Estadão

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Chamada carinhosamente por aqui de The Lady, foi obrigada a passar quase três décadas em prisão domiciliar. Outros foram os monges budistas, massacrados na chamada Revolução Açafrão, em 2007, na cidade de Mandalay.

Em 1 de abril de 2011, o país promoveu a primeira eleição democrática válida em 40 anos, elegendo Suu Kyi para um posto no parlamento. Estávamos lá nos dias que precederam o pleito e pudemos notar a alegria do povo nas ruas e dos milhares de monges.

Quase 90% da população de 40 milhões de habitantes é praticante do budismo. E por mérito e tradição, ao menos uma vez na vida, entre os 10 e 20 anos, colocam seus filhos para o monastério.

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Todos os anos cerca de 500 mil jovens participam do Shinpyu, o ritual de passagem que celebra a cerimônia dos noviços. Foto: Estadão

Por semanas, meses ou anos, eles farão parte da sangha (comunidade de monges) de algum dos 50 mil monastérios espalhados por todo o país, emprestando uma paz especial e um  colorido a mais ao Mianmar.

Com Tiago e Luisa, conversamos e brincamos com eles várias vezes. Vou listar aqui os momentos e as passagens mais bacanas:

Em Nyaungshwe fica o mais fotografado mosteiro do Inle Lake, o tricentenário Shwe Yaunghwe Kyaung.

Os pequenos noviços sempre dão o ar da graça nas suas janelas ovais de madeira. Foto: Estadão

No mosteiro, fomos convidados a participar de um almoço vegetariano, regado a sopa de macarrão, vegetais e frutas. Logo após comer, os noviços ganharam um tempo para eles.

Alguns ficaram jogando peteleco, uma espécie de sinuca de dedo e convidaram o Tiago para brincar com eles. A Luisa adorou assistir Foto: Estadão

O que eu gostei de ver  é que ganhando ou perdendo, eles sempre davam risada, se importando mais em se divertir do que competir.

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Uma outra turma, desencanada do peteleco, preferiu ficar numa salinha, assistindo a um filme de Samurai, ao estilo Bruce Lee. 

Quando a tarde chegou os monges foram tomar banho, lavar as túnicas escarlates e depois voltaram as orações, preenchendo os altares com flores e incensos à Buda.

Em Amarapura, uma das antigas capitais do reino, próxima a Mandalay, fica a ponte U-Brein, com quase dois quilômetros de extensão toda erguida em madeira em cima de um grande lago. Por unir um templo sagrado a um mosteiro onde vivem cerca de dois mil monges, a ponte é um eterno ir e vir dos fiéis.

Cenário ainda mais bonito ao pôr-do-sol. Foto: Estadão

Em Mingun, cidade histórica à beira do rio Irrawady  - o mais importante do país, que o atravessa de norte à sul -, os pequenos monges gostam de brincar pelas escadarias do Templo Branco.

A estopa representa o Mont Meru, a montanha do centro do universo. Foto: Estadão

Em Mandalay, enfeitados como pequenos Sidarta Gautama, vimos as crianças participarem do ritual de limpeza nos templos para virar noviço. No dia seguinte, de cabeça raspada, os meninos receberão o robe escarlate; as meninas, o rosa.

Some-se um copo, uma tigela, uma gilete e um guarda-sol e você terá todos os pertences de um monge. Foto: Estadão

Já em Bagan, a cidade perdida nas selvas, com dois mil templos erguidos entre os séculos 9 e 12, pudemos ver a devoção de monges mais velhos, jejuando e entoando mantras em templos vazios.

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Ficamos neste templo mais de duas horas, e este monge permaneceu rezando durante todo esse tempo Foto: Estadão

Num destes templos, contemplei um dos momentos mais bonitos da viagem. Junto à imagem de um Buda deitado de quase dez metros, uma monja cega de 90 anos passava a mão nos relevos da estátua, enquanto a sua guia descrevia as nuances. Ela era uma monja japonesa e me disse que sempre sonhou em visitar o Mianmar e agora que o país abriu, realizava um sonho. "Pena que perdi a visão" ela disse. Mas depois, apontando o coração sussurrou e riu. "Ainda posso sentir. E é lindo".

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