O vazio de muitos - essas autênticas neuroses de vazio - é muitas vezes erroneamente combatido com trabalho e, tantas outras vezes, com a diversão e suas variantes: o jogo, a bebida, as drogas, as relações fúteis, festas e reuniões superficiais, a boa mesa, o "corre-corre" frenético, as viagens que nos levam a ver tudo sem se deter em nada, a vontade quase irracional de mudar de lugar e de sentir sempre novas experiências. E acabam matando a sede com água do mar. Saem de uma fuga - o trabalho - para entrar noutra - a diversão. Ou melhor: enchem o vazio com um vazio ainda mais denso. É o que relata o psiquiatra judeu Viktor Frankl: "Nós, os psiquiatras, mais do que nunca, nos encontramos com pacientes que se queixam de um sentimento de futilidade. Permitam-me citar - continuava Frankl - uma carta que recebi de um jovem estudante americano: "Tenho 22 anos, um diploma, carro, previdência social e a disponibilidade de mais sexo do que necessito. Agora, apenas preciso explicar a mim mesmo qual o sentido de tudo isso".
A verdadeira arte, o verdadeiro artista e a Música - estou convencido disso - devem transcender e nos tornar capazes de ouvir e enxergar, com maior sensibilidade e riqueza, o sentido último e profundo das coisas. E a resposta não está fora: está dentro. Faz falta olhar para dentro de si. O artista erudito ("ex-rude") deve ser um instrumento catalisador desta transformação, deste desembrutecimento ao que se propõe. Uma nova visão da cultura: ser uma ponte entre o mundo da Beleza e a realidade diária, tendo consciência de sua verdadeira vocação e responsabilidade. O artista, quando corrompido em sua essência, perverte seu verdadeiro fim e acaba comprometendo sua própria arte. O artista foi feito para as alturas. E como diz o ditado: "Quanto maior a altura, maior pode ser o tombo".