Obstáculo para comparar juros

HUGO PASSARELLI  E MARIANA CONGO

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Por Marcelo Moreira
Atualização:

"Baixamos os juros. Venha ser nosso cliente". Os bancos anunciam crédito mais barato. Mas, na prática, o consumidor não tem facilidade para comparar as taxas e encontrar o menor juro. A reportagem visitou agências dos cinco maiores bancos de varejo (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander). Em todas elas, o objetivo era conseguir um empréstimo de R$ 5 mil no crédito pessoal, para um cliente com renda de R$ 2,5 mil.

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Contudo, o que se viu é que somente correntistas conseguem simulações concretas de juros. No banco Santander, o balde de água fria veio já no pré-atendimento. A atendente perguntou se o repórter era correntista. Diante da negativa, disse: "Então não tem como fazer a simulação."

Só correntistas com mais de três meses de relacionamento e movimentação na conta conseguiriam um empréstimo, segundo a funcionária. E, mesmo sem fazer uma simulação, a atendente informou que a taxa variaria entre 8% e 9% ao mês.

Já no Banco do Brasil, a funcionária calculou um juro de 4,99% ao mês para um perfil de conta poupança criada há oito anos. Contudo, fez uma recomendação curiosa ao ver um cartão da concorrência na carteira do repórter: "Já tentou no Santander? Às vezes eles conseguem taxas melhores."

As perspectivas no BB não melhoraram em outra visita. Desta vez, foi apresentado perfil diferente: um cliente que possui conta corrente há cinco anos. A alegação de que o cadastro estava desatualizado impediu a simulação de empréstimo de bate-pronto.

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Mesmo assim, a reportagem insistiu para saber quais as taxas do crédito pessoal. A atendente do BB informou que as menores taxas, entre 3,90% e 4,89% ao mês, poderiam ser acessadas desde que o cliente aderisse ao pacote de serviços Bom Pra Todos, cuja tarifa varia entre R$ 30 e R$ 54. Pela faixa salarial, o repórter pagaria entre R$ 30 e R$ 38 pelo pacote. Caso não aderisse, a taxa seria maior: em torno de 5,89% ao mês.

O que foi vivenciado pela reportagem na agência do Banco do Brasil é contrário ao posicionamento do banco. "A taxa de juros nunca está relacionada com a aquisição de serviços. E sim com a relação que o cliente tem com o banco. Um cliente que se comprometa a concentrar suas movimentações financeiras com o banco terá um juro menor", afirma o diretor de clientes pessoa física do Banco do Brasil, Hideraldo Dwight Leitão.

Sem conta no Itaú, a reportagem foi a uma agência solicitar o empréstimo de R$ 5 mil. O atendente consultou o CPF e viu que o nome do repórter estava limpo. Depois, informou que o crédito só seria liberado em caso de abertura de conta corrente e movimentação por três meses.

 As taxas para crédito pessoal variariam entre 4,95% e 6,7% ao mês. O funcionário disse que com o comprovante de renda a conta poderia ser aberta, mas a liberação do crédito dependeria do nível de movimentação. Além disso, os juros seriam menores com adesão ao pacote de serviços mais caro.

Em outra visita ao Itaú a informação foi um pouco diferente. Sem detalhar taxas, o funcionário disse que a avaliação de crédito depende de quanto é depositado na conta e não da comprovação de renda. Dessa maneira, o banco entende que o salário do correntista é de R$ 500 se ele depositar esse valor em conta.

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A Caixa Econômica Federal foi a instituição que chegou mais perto de oferecer uma pesquisa rápida ao consumidor. A atendente do banco informou que não era necessário abrir uma conta corrente para fazer uma avaliação de crédito, desde que comprovantes de renda, endereço e identidade fossem entregues para análise.

Mas pecou ao fornecer duas informações erradas: primeiro, disse que a taxa do crédito pessoal varia entre 2,5% e 6,5% ao mês, enquanto o banco anuncia valores entre 1,80% a 3,88% ao mês. Depois, disse que transferir o recebimento de salário para a instituição não alteraria a taxa de juros.

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