PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Um olhar brasileiro sobre os desafios de hoje no dia a dia Europa

Dilema entre austeridade e estado de bem-estar social em tempos de crise

Por karlamendes
Atualização:
      Foto: Estadão
 
      Foto: Estadão
 
 
 
 

 

O que fazer com Estado de bem-estar social que pesa tanto nas economias europeias em tempos de crise? Os franceses deram ontem a sua resposta, ao eleger o socialista François Hollande, com 51,67% dos votos: querem a continuidade dos investimentos pesados do estado para garantir educação de qualidade e condições de trabalho à população, apesar da crise.

PUBLICIDADE

Como segunda economia da zona do euro, as eleições francesas tiveram destaque na imprensa mundial. Aqui na Espanha, não foi diferente. Estava na capa dos principais jornais, com chamadas que variam de "crise derruba Sarkozy" à incerteza que o governo socialista francês sinaliza para todo o continente, uma vez que Hollande já deixou bem clara a sua posição contrária à "austeridade a qualquer custo" imposta pela chancheler alemã, Angela Merkel.

"A austeridade não pode ser uma condenação". Esse discurso de Hollande de crítica ao rigor fiscal sem crescimento foi o que seduziu os franceses e pôs fim à parceria conhecida como Merkozy, termo que a imprensa daqui caracteriza como a "falsa simbiose" entre Merkel e o ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy.

O novo presidente francês promete que negociará duramente com Berlim para afrouxar as metas de déficit da França de modo que possam ser realizados investimentos e criação de emprego. Hollande quer contratar 60 mil professores, reduzir à metade a reprovação escolar e construir 40 mil moradias novas para estudantes. Outra ambição é criar 150 mil postos de trabalho, denominado "contratos de geração".

A ideia é estimular as empresas a contratar jovens com menos de 30 anos e mantenham no seu staff profissionais experientes, com mais de 55 anos para estancar o aumento do desemprego nas faixas da população que mais sofrem com a crise. Nessas condições, o veterano destinará um terço do seu tempo para formar o jovem. A empresa que fizer contratações nesses moldes terá cinco anos de isenções de encargos trabalhistas. O novo governo também ameaça aumentar os custos das demissões em massa das empresas lucrativas. Quanto às aposentadorias, Hollande afirma que a concessão do benefício voltará a ser aos 60 anos. Na gestão Sarkozy, a idade mínima havia sido aumentada para 62 anos.

Publicidade

Cumprir todas essas promessas, no entanto, não será tarefa fácil. Apesar dos recortes realizados na gestão Sarkozy, o peso do estado de bem-estar na França é 56% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Ou seja, sem corte de gastos, fica complicado ter verba para fazer investimentos e estimular a economia do país.

Mas só arrochar o orçamento também não é a solução para tirar o país da crise. A Espanha que o diga. Apesar de todos os cortes que estão sendo realizados - inclusive em serviços essenciais, como saúde e educação - o país, que está oficialmente em recessão, enfrenta a desconfiança dos investidores internacionais: há dúvida se as medidas serão suficientes para a retomada do crescimento.

Difícil dizer quem está correto. É uma questão bastante complexa. O que posso contar para vocês sobre a minha experiência é que estive em Paris há um mês e confesso que me senti muito mais insegura lá que em Madri. Sim, é indiscutível que a economia francesa está muito melhor que a espanhola e que boa parte dessa "pujância" é consequência das medidas de austeridade da era Sarkozy. Mas não posso deixar de comentar que o fim de muitas ações do estado de bem-estar social de lá tem reflexos diretos no dia-a-dia.

O número de pessoas que nos abordam nas ruas pedindo dinheiro ou comida é muito maior que em Madri. A quantidade de pessoas sem casa, que dormem nas ruas, também é incrivelmente maior. Nos principais pontos turísticos da cidade, como a Torre Eifel e o Louvre, são inúmeros os avisos para que os turistas tenham cuidado com bolsas, celulares e objetos pessoais, devido à forte presença de "carteiristas".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.