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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Uruguai e México, por um 'volver a ser'

Edu: Quem é a candidata a zebra desta quarta-feira, Jordânia ou Nova Zelândia? Ou ambas? Ou nenhuma?

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Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Carles: Sem menosprezo, imagino que os emissários de Uruguai e México já andaram dando uma olhadinha em CTs no Brasil, mesmo que no anonimato. Eu não apostaria em nenhuma das duas zebras que você me propõe, mas se tiver mesmo que escolher uma pífia do ano, optaria pela Nova Zelândia como surpresa. Os rapazes de Tabárez são mais solventes.

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Edu: E o Uruguai está visivelmente mais lançado porque disputou ao menos seis decisões seguidas e resolveu quase todas com autoridade. Diego Lugano, ao embarcar para o confronto, disse claramente: 'Uruguay tiene que estar'. Para eles, um Mundial no Brasil tem uma carga simbólica que torna a Celeste ainda mais turbinada. Acho até que o próprio Lugano pode ser o ponto fraco desse time, mesmo do alto dos seus quase 90 jogos pela seleção. O problema é que, nos últimos três anos, o capitão não fez sequer 30 jogos pelos clubes por que passou. Foram 12 jogos em uma temporada e meia no PSG, 11 partidas pelo Málaga no ano passado, onde não chegou a ser titular, e agora, no West Bromwich, fez dois joguinhos e olhe lá. É muita falta de jogo para um zagueiro de 33 anos que já teve uma sequência de falhas no primeiro turno das eliminatórias. Vai sobrar para o Godin, em ótima fase, mas acostumado ao ágil Miranda no Atlético.

Carles: Godin está mal acostumado, habituado a ter na frente dele o time muito combativo made in Simeone, um time 'molesto' como definiu ontem à noite na Cadena Ser o próprio 'Cholo'. Tradicionalmente, a Celeste também é um time de muita pressão. Quiçá a grande diferença seja que, apesar de ter um meio campo combativo, é bem menos "jugón" que o do Atleti. Acredito que o grande problema de Tabárez é esse, um meio que briga mas que não alimenta um ataque de dar inveja a muitas das seleções já classificadas. Será que voltaremos a ver Cavani fazendo aquela função de ala com chegada como nos últimos jogos com a seleção?

Edu: Parece que neste jogo de ida Tabárez vai reforçar o meio de campo com Cebolla e Lodeiro, que vem de uma grande temporada pelo Botafogo, portanto Cavani deve ficar mais à frente. Na partida de volta, provavelmente, ele usará de novo o tridente ofensivo, Luis Suarez, Cavani e Forlan. Mas pelo que temos visto daqui, a própria Jordânia, apesar de fazer o jogo da vida, já se considera uma vitoriosa por estar na repescagem. O técnico Houssam Hassan, um histórico do futebol egípcio e adepto de carteirinha de Hosni Mubarak, vai apostar na força física e joga tudo nesta primeira partida e sonhar com um empate improvável no Estádio Centenário.

Carles: Como admirador de Mubarak, portanto, Houssam não quer nem pensar em uma nova primavera árabe, e pode ser o que ele mais precisa, uma revolução. Talvez esteja cometendo o mesmo erro que o seu admirado líder, o de não olhar o inimigo, ou pelo menos é o que ele diz, que aprendeu a não prestar muito atenção ao adversário. Uma semana no Catar concentrados, vendo vídeos e a satisfação de ter conseguido a grande proeza de chegar até aqui. Uma seleção inédita em mundiais. Seria uma tremenda surpresa, muito mais que zebra.

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Edu: Não é o caso da Nova Zelândia, esteja certo. Os 'kiwis' fazem o primeiro jogo no Azteca e esperam se servir da ansiedade e da falta de confiança do México, que vem de uma sequência de abalos sísmicos. E o pior é que Miguel Herrera, 'El Piojo', o novo técnico, é meio bocudo. Diz que não admite uma vitória por menos de três gols para fazer o jogo de volta mais tranquilo. Mas se esquece de que não tem sido assim com este México, que além de tudo vai jogar sem suas estrelas ofensivas, Giovanni dos Santos e Chicharito.

Carles: Realmente, a situação do México, apesar do teórico favoritismo ou, em parte, por causa dele, não é cômoda. A disputa do grupo da Concacaf parecia bem menos complicada que a do Uruguai no Sul. E atualmente, quem menos confia na 'Tri' são os próprios mexicanos, sem esperanças em um time que tomou um Aztecazo de Honduras, em casa e, na última rodada, com a vaga para a repescagem em disputa, não conseguiu fazer os deveres e perdeu para a Costa Rica. Salvou-se graças a um gol justo de quem, dos EUA, em cima do Panamá já nos descontos, em meio à vibração de um narrador mexicano da FOX que não parava de maldizer aos berros seus próprios jogadores, que não mereciam, mas que os "grandes e briosos norte-americanos" tinham quebrado o galho deles. Era o que me faltava ouvir. Quanto à Nova Zelândia tem até jogador da Premier. Para dizer a verdade, Tommy Smith, que pertence ao Ipswich Town, jogou emprestado em times da segunda e quinta divisões, é já defendeu as seleções inglesas sub-17 e sub-18, mas ao chegar à principal "escolheu" a neozelandesa. É o chamado 'Diego Costa kiwi'.

Edu: Pois eu diria que não estão livres de um Aztecazo, Parte 2. Essa Nova Zelândia é um time bem cascudão, sem quase nenhuma técnica, mas propenso a não se intimidar diante de qualquer adversário. E com um jogo aéreo complicado para uma defesa comandada pelo quase vovô Rafa Marquez, que mesmo na flor da idade andou fazendo o grande Barça de Rijkaard e Ronaldinho Gaúcho passar alguns apuros. Além do zagueiro a que você se refere, há ainda um atacante perigoso pelo alto, e só pelo alto, com seu 1m91, Chris Wood, 21 anos, que joga pelo Leicester.

Carles: Não é que a Nova Zelândia seja um modelo de futebol moderno, ao contrário lembra mais o praticado pelos ancestrais nas ilhas britânicas e tem tudo para complicar a vida dos mexicanos, se não forem eles mesmos que se compliquem. A esperança é que se confirme a tendência da presença das seleções tradicionais e que os brasileiros possam retribuir parte do carinho que dizem ter recebido em 1970, pelo menos enquanto durar a capenga aventura mexicana.

Edu: E para alegria das agências de turismo, que esperam um enxame de hermanos mexicanos.

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