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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Últimas horas dos delírios de verão

Carles: Começa a contagem regressiva para a meia noite de segunda-feira e o fim da janela de contratações do verão europeu. Parece que Florentino quer todo o protagonismo com uma contratação mais do que anunciada. O palco especial para as apresentações dos galácticos ficou montadinho a semana inteira, criando expectativa da eminente apresentação do galês. Acabou sendo desmontado em cima da hora para o jogo contra o Athlético de Bilbao já que cobria a visão desde a tribuna de honra, reservado para os dirigentes. Imagino que, terminado o jogo, vai ser montado de novo para a esperada apresentação na segunda. Tudo para fazer jogo de cena? Não há quem entenda. Enquanto isso, o vizinho do Manzanares não para de contratar centrais apesar da certa estabilidade que dá sua dupla titular. Mais ao norte, o Tata decidiu suspender a busca do seu zagueiro. A vocação psiquiátrica, própria dos argentinos parece ter detectado a síndrome Chigrinskiy na Cidade Condal e adiou tudo para a janela invernal, quando a força da tal patologia já tenha amainado. Como vocês veem tudo isso desde aí? Algum compatriota candidato a entrar no circo das 24 horas finais?

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Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Edu: Só se houver uma grande surpresa. Leandro Damião na Inglaterra ou Alemanha? Pode até ser. Fred? Mais difícil, se bem que houve rumores por aqui que havia um certo interesse do Barça, algo descabido neste momento me parece. Mas o que vemos de longe é uma indigestão, um festival de exorbitâncias. Como pode um clube como o Tottenham gastar mais de cem milhões de euros e conseguir montar um time médio ou pouco mais que isso? Sem contar essa história do Bale. Provavelmente teremos em Madrid a grande minissérie do ano depois que o galês começar a frequentar o vestiário dominado por Cristiano e sua turma.

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Carles: Os Spurs perderam a grande oportunidade de contratar a metade dos que contrataram para montar um belo time, equilibrado e competitivo. E gastando bem menos. Isso tem pinta de nau desgovernada e se confirmam nossas suspeitas sobre a personalidade do Vilas-Boas, um banana! Todo o contrário que está demonstrando Martino. Minha intuição diz que, com seu jeito e milonga, ele tomou as rédeas e conseguiu frear o arroubo compulsivo de contratações, do que você já reclamou algumas vezes aqui. Quanto ao reino dos blancos, jamais sem confusão. Nem imagino qual possa ser a reação de Cristiano.

Edu: Até entendo sua animação com o Tata, é raro ver um técnico contido nesse mundo de gastança e desperdício que é o futebol europeu. Escaldado pelo contexto sul-americano e sob inspiração dos rigores econômicos da señora Kirchner, ele preferiu a cautela, mesmo porque já tinha uma grande time nas mãos. Mas acho que foi mais esperto do que econômico. Como todo bom boleiro argentino, sabia que teria problemas se viesse um grande zagueiro para competir com Puyol por um lugar ao lado de Piquet. Preferiu se escorar no 'jefecito' para deixar tudo em casa numa eventual crise. Colocar Mascherano no banco é muito mais fácil do que fechar a porta para os valores simbólicos representados do distinto Puyol, mesmo em fim de carreira.

Carles: Você continua vendo fantasmas onde não há. Tudo segue incerto com relação ao futuro de Puyol, ninguém se atreve nem a mencionar a possibilidade de que 'el tiburón' não volte ou, se voltar, que seja de forma episódica. Contudo, não deixa de ser uma possibilidade. Pode até ser que a sombra alongada do capitão ainda esteja ocupando a quarta zaga, só que a ambição mercantilista da era Rossel já deixou claro que ninguém é intocável no Camp Nou, nem os velhos valores blaugranas. Reconheço a possibilidade de que, no caso do Tata, eu esteja confundindo personalidade com cautela. É possível que ele esteja esquivando a responsabilidade de avalizar a contratação emergencial e dramática de um zagueiro. Mas consideremos a possibilidade de que, como ele vem demonstrando, acabe perfilando um meio de campo mais geométrico e por isso a alternância entre Iniesta, Cesc e Xavi, dos que provavelmente só vai jogar um de cada vez.Mais, deve adiantar um pouco o Busquets (se ele recuperar a forma), como no inicio da carreira e idem o 'jefecito', para compor uma dupla de volantes. Nesse caso, estaria ganhando tempo para no final do ano, trazer o argentino Santiago Vergini, zagueiro da sua confiança que comandou no Newells e que atualmente joga pelo Estudiantes. Modelo Barça, continuidade da era Pep, tudo o que quiserem nos vender, mas ao estilo de Rosário.

Edu: Parece mais o que você quer do que aquilo que o Tata aparenta, Carlão. Wishful thinking... Mas vamos checar de perto, te dou esse crédito. Voltando às últimas horas do mercado, talvez italianos e ingleses estejam mais ariscos neste momento, porque, na Espanha, a impressão que dá é que só se espera o desfecho sobre Bale e Kaká, certo? Ou o Atlético pode vir com mais alguma surpresa? Ou ainda o Valencia?

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Carles: The illusions come true! Nada previsto a não ser os transfers de última hora, uma tradição que não pode faltar. Na sexta-feira, o colombiano Pabón, ex Betis, chegou ao Valencia. O Atlético apresentou o internacional belga procedente do Ajax, Alderweireld, que graças à pouca aptidão espanhola para os idiomas, escolheu ser chamado pelo primeiro nome, Toby. E nos 'colchoneros', contradizendo a máxima do mercado de verão, inspirada no clássico cartaz do Metrô que reza "Dejen salir antes de entrar", Demichelis espera a confirmação para juntar-se ao camarada Pelegrini, no City.

Edu: Então fiquemos à espera de Gareth, o garotão festivo do País de Gales que Florentino julga ser a salvação da lavoura. Da época de Zidanes y Pavones chegamos aos tempos de Bales y Iscos. Continuo com a pergunta que nunca irá calar: quem sairá para entrar Bale?

Carles: Deixe-me ver, um minuto enquanto eu tiro o pó da minha bola de cristal... vejo dois olhos 'saltones' e respondem pelo nome de... Mezut. Não sei se o espírito livre, meio infantil do alemão segura essa. O primeiro assalto, por pontos, foi para Angelito "el fideo" Di Maria, que deixou Carletto muito bem impressionado. Como sempre, depois ele vai reduzindo a marcha. Definitivamente, os territórios espanhóis não foram o destino favorito das estrelas, nesta temporada. Bale e pouco mais, sem tempo ainda para os jornalistas espanhóis digerirem a nova realidade. Seguem acreditando que os clubes espanhóis vão derrotar fácil os respectivos adversários na Champions. Nada que não possa ser resolvido com um par de bons sustos para trazer todo mundo de volta à terra.

Edu: De volta à terra gastando cem milhões com o galês? É só o sujeito mais caro da história. Acho que essa viagem ainda está longe de terminar.

Carles: Síndrome de abstinência de um tempo passado e vicioso, meu amigo. Lembre-se que é um único caso, um só jogador, além de Neymar, para uma liga que tem 20 clubes na Primeira divisão, 22 na Segundona... Esta é a realidade terrenal, nunca tão poucos ganharam tanto e tantos amargaram o inferno.

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Edu: Ouço essa conversa há duas décadas pelo menos.

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