Carles: E para alguns, o principal favorito. Exagero? Talvez, mas por várias razões a Argentina pode ter todo esse favoritismo justificado porque é um time com alguns jogadores brilhantes do meio para a frente, uma geração que ganhou quase tudo nas categorias de base, joga pertinho de casa e enfrenta um grupo relativamente fácil, talvez o mais fácil de todos e, portanto, pode chegar mais descansada às fases decisivas. Mas todos sabemos que isso tudo é um monte de teoria que, na prática, poucas vezes se confirma. Principalmente em Copa do Mundo.
Edu: Grupos fáceis em Copa do Mundo podem ser armadilhas. E esse time argentino, que possui o quarteto mais reluzente do Mundial - Di Maria, Higuain, Agüero e Messi -, tem a defesa que é, de longe, a maior incógnita, com jogadores inconstantes, como Garay e Otamendi, e outros que nunca foram bem em grandes confrontos. Sem falar no goleiro que deve ser o titular, Sergio Romero, do Monaco. Uma injustiça com o grande Willy Caballero, do Málaga, um veterano de extrema confiança mas que foi preterido por Alessandro Sabella, que também não gosta de Carlitos Tevez.
Carles: Não é fácil ter Carlitos num grupo, todo mundo sabe. Mas também é fato que ele costuma compensar em campo. Acho que valeria a pena poder contar com uma alternativa como ele. Caballero está em todas as primeiras páginas esportivas de hoje, por ter impedido que a liga espanhola terminasse ontem com uma defesaça no último segundo do jogo contra o Atlético de Madrid. Particularmente não gosto do estilo dele, mas não tenho dúvida de que é um digno representante da estirpe dos Carrizzo, Fillol, Cejas ou Gatti, grandes especialistas do "um contra um" e da boa colocação. Nem Romero nem Orion fazem jus. O terceiro goleiro, Andújar, não vi jogar o suficiente para fazer um julgamento. A zona defensiva que poucas vezes na história da alviceleste demonstrou amor à bola, mas que sempre se caracterizou pela contundência e picardia, nesta ocasião, nem isso. E justo quando acabamos de assistir à emocionante despedida do mais longevo dos jogadores argentinos, Zanetti.
Edu: De todo jeito, o ataque tem compensado essas carências, inclusive do meio de campo, onde Mascherano fica correndo de um lado para o outro para segurar os contra-ataques (que sina essa do jefecito!). Mas é um time que tem Messi, e aí meu amigo os outros é que têm que perder o sono. Messi ainda está em dívida com a Seleção Principal, o que explica a preguiça dele nesses últimos tempos de Barça, para evitar as lesões. Mas até o venerável Julio Grondona andou cobrando desempenho mais digno do melhor do mundo com a camisa da seleção. Grondona é bem o retrato acabado do dirigente sul-americano - 35 anos no poder, eminência parda da Fifa no continente, um histórico de controvérsias, enfrentamentos com jogadores e escândalos na federação. Mas segue firme como uma rocha. Nem Dona Cristina tem tanto lastro.
Carles: Grondona e até a filha de Sabella, todo mundo se vê no direito de puxar a orelha de Leo. Não me estranha que às vezes ele resolva se isolar do mundo. Parece que o futebol continua demasiado tolerante com sujeitos como Grondona, processado por agressão, injúria, discriminação, acusado de estar por trás de demissões de jornalistas incômodos e outra série de maravilhosas obras em prol da humanidade. Há quem diga que o núcleo de poder de Grondona se apoia nos clubes da capital em detrimento dos provincianos, aliás uma centralização que não é privilégio do futebol argentino. Os bonaerenses se gabam de morar na cidade mais europeia do cone sul, enquanto algumas regiões do país seguem abandonadas à própria sorte, desenhando um cenário de evidente desigualdade e estratificação social. É uma das queixas mais frequentes quanto à presidente consorte que faz questão de sair na foto ao lado dos líderes esquerdistas do continente, algo com que nem todo mundo está de acordo.
Edu: A grande mídia, principalmente, alvo de uma batalha federal contra a viúva Kirchner, que se mostrou nessa questão de enfrentar os monopólios muito mais contundente do que o maridão. Cristina também já teve uma ou outra rusga com Grondona, mas por enquanto não cornetou Messi, pelo menos.
Carles: Justiça seja feita, foi ela que peitou a poderosa multinacional espanhola do petróleo e reverteu a tentativa de um monopólio pelo capital estrangeiro em um setor estratégico. Só isso já justifica que ela saia na foto que quiser e com quem quiser.
Edu: Não sei se ela virá à Copa, mas muitos hermanos já fizeram suas reservas por aqui, a maioria na grande Belo Horizonte, em Vespasiano, onde o time vai ficar concentrado, treinando no excelente complexo do Atlético Mineiro. Por ali Messi poderá vomitar à vontade, antes, durante e depois dos jogos.
Carles: Como sétima no ranking FIFA, a seleção argentina viaja comodamente ao Rio para a estreia contra a Bósnia, 25ª no ranking no domingão, dia 15, em pleno Maracanã. Volta para o QG em Belô e por lá mesmo enfrenta o Irã, 37ª. Por último, vai a Porto Alegre para jogar contra a Nigéria, 44ª... nem que fossem os donos da casa.
Edu: E mesmo na segunda fase ainda não terão grandes dificuldades, no máximo uma França. Vamos ver quando julho chegar.