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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

Felipão não tem Plano Diretor

TÉCNICO VÊ EVOLUÇÃO E DIZ QUE NADA MUDA

Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Carles: Um jogo entre seleções de ponta, com goleiros que jogam nos gloriosos esquadrões do Toronto e do Ajaccio e que termina zero a zero, não está nada mal, não? Pelo menos para os dois em questão.

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Edu: É um ponto de vista, não sei bem para justificar o quê. Só acho que a supervalorização da boa partida do goleiro adversário é uma estratégia bem fuleira para explicar quando a coisa não anda. E não andou.

Carles: Pois é, também acho que quando o goleiro faz tantas defesas do tipo "passava por aí", significa no mínimo que quem realiza os tiros ao gol não dispunha das condições ideais para o  arremate. A Seleção Brasileira, pelo menos, não trabalhou para deixar seus atacantes em condições claras para marcar, foram oportunidades fruto de bola parada ou entradas atabalhoadas, graças ao esforço pessoal de algum valente ou do bate-rebate entre pernas de um e de outro time. Além da coincidência nas procedências de segunda linha dos goleiros, foi também o encontro dos dois treinadores modelo motivação autoajuda e atire antes de perguntar. Sem vítimas, o que já é lucro.

Edu: Mas o bonachão Piojo Herrera, ao menos, organiza de um forma bem simplista seu time, que sabe ocupar espaços, tem saída rápida, recua com uma certa ordem para compactar. Convenhamos, Felipão não tem Plano Diretor, nunca teve. Nada que se assemelhe a um menu com alternativas. E essa obsessão pelo entusiasmo cansa até os próprios jogadores, que às vezes precisam de um mapa, uma explicação básica. Não, não há. Quando tem que mudar o rumo então é ainda pior, porque aquilo que já não é muito claro fica impraticável, impossível de compreender. E existe um adversário do outro lado que costuma aproveitar. Em suma, o entusiasmo em excesso pode virar o fio e aí não existe estratégia para compensar.

Carles: Pode ser também a lei seca sexual imposta pelo Piojo aos seus pupilos. Testosterona versus adrenalina só pode dar nisso mesmo: OXO. Agora, sabe que o roteiro segue sendo ideal, né? Vamos chegar na última rodada do grupo com o Brasil e México empatados por pontos e com vantagem no saldo de gols para os da casa. Croácia com um ponto menos e ganhando, depois da farra na piscina, por uns 2 a 1 do grupo de amigos de Samu Eto'o. Diante desse quadro, mexicanos e croatas se batem pelo segundo lugar sem ameaçar o primeiro posto que o Brasil garante, metendo no mínimo uns 6 nos africanos. Quer melhor cenário? Épico o professor gosta. E aí, é outra história, mais adrenalina, e mais futebol espartano - heroico e econômico.

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Edu: Não vejo nada de épico em ganhar de Camarões, por favor Carlão. É obrigação. E você sabe muito bem que o problema não é classificar ou não para as oitavas. O problema é convencer. Não tem sentido o treinador vir dizer que o time evoluiu, como Felipão teve o desplante de afirmar na entrevista pós-jogo (na qual, por sinal, foi evasivo e rudimentar nas ideias e na postura). Nem os próprios jogadores parecem estar convencidos, não adianta o treinador dizer que é, se o mundo está vendo que não é. O jogador não é estúpido, conversa com a família, ouve amigos mais chegados, revê o jogo, treina todo dia. Essa falsa ideia de evolução acalentada pela Comissão Técnica é capaz de tirar ainda mais a confiança do jogador que não consegue render por insegurança - e cito três, no mínimo, Fred, Paulinho e Hulk, com outros caminhando para isso. A verdade é que o empate de hoje poderia ser um choque de realidade para que Felipão se convencesse de que a final da Copa das Confederações já acabou. Mas não foi assim, nem será com um treinador que faz do comando técnico um exercício de afirmação de liderança pessoal e idiossincrasias, sem volta atrás ou reformulação de conceitos (!?) quando necessário.

Carles: Mas é justamente o que eu estou dizendo, épica é fumaça, a não ser que seja literalmente uma batalha. Futebol mesmo não vi, até menos que no primeiro dia e isso, que já não tinha o impacto psicológico da estreia. Isso no meu dicionário vem como involução, mas quem sabe é o homem. Provavelmente gente como Fred, Paulinho ou Hulk são dos que menos creem em fumaça. Já David Luiz, que é um grande zagueiro, é também o mais claro exemplo de fácil convencimento com esse papo-o rapaz segue cantando o hino com uma ferocidade assustadora. Depois se mantém ligadão o tempo todo. Neymar cumpre a parte dele, esfrega os olhos depois do hino já como uma rotina e quando a bola começa a rolar faz o jogo dele, sem necessidade de nenhum estimulante extra. O problema é que, além da dependência e da síndrome de abstinência que esse tipo de estimulantes provocam, não sabemos se o efeito dura até 13 de julho ou é suficientemente potente para suprir a falta de jogo de conjunto.

Edu: Você, como eu, sabe bem que é um pouco tarde para se neutralizar a falta de conjunto só com anabolizantes morais em um ambiente no qual o chefe fica descompensado com cada mínima crítica e despreza a chance de reconhecer que é preciso mudar. Bom, nunca se sabe. De repente algum psicólogo do além me prova o contrário e me convence de que tática e estratégia não servem para nada. Ao menos, parece, Del Bosque se convenceu de que tem que mudar o espírito e a forma de jogo de sua Roja depois do chacoalho da sexta-feira 13. Veremos outra Espanha contra o Chile?

Carles: Deveria pelo menos. pouco se tem a perder. Ganhar do Chile não é fácil, mas é a mínimo obrigação para aspirar a mínimas chances de classificação. Porque, se a Holanda atropelar a Austrália, poderia escolher ser primeira ou segunda do grupo na última rodada para evitar o Brasil. Quer saber? Acho que mudam nomes, mas o modelo muda um pouco menos. A maior certeza de todas é a entrada de Pedro, para dar mais profundidade e trabalho do que com Silva. E eu arriscaria que joga Juanfran, que também tem mais facilidade ofensiva que Azpilicueta. Mas no meio de campo, só acredito vendo. Contra esse Chile, dá até para desguarnecer as laterais mas não se pode perder o combate no meio. É ali que a coisa vai se resolver (não sei de onde tiraram no Barça que Alexis é um ponta). Acho difícil que Del Bosque confie essa missão a soldados inexperientes.

Edu: Pedro é para o lugar de Diego Costa?

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Carles: Não, junto com ele. Diego Costa começa jogando também.