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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

A discreta eficiência do herdeiro de Luís Pereira

Carles: A família Del Bosque precisou de um centroavante dos de sempre, rápido, entrão, goleador, valente... e foi bater na porta do Manzanares. No momento, também não vamos muito bem de zagueiros e tem outro brazuca lá que cairia como uma luva. No caso de Costa, desconfio que o Felipão se arrependeu até a medula. Será que ele empresta o Miranda também. Não faz falta para vocês?

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Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Edu: Claro que faz, sempre faz. E Felipão anda meio pressionado, porque todos os candidatos à última vaga na zaga (com Thiago, David Luiz e Dante garantidos) não chegaram a causar suspiros. Rever, Dedé, Henrique e vários outros estiveram na órbita da Comissão Técnica, mas não dá para dizer que alguém aprovou plenamente. E o momento do Miranda é impressionante. Nem acho que seja um superzagueiro, suficiente para barrar os titulares, só que evoluiu muito nas últimas temporadas, cara a cara com alguns dos melhores atacantes do mundo.

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Carles: Sempre que falamos de algum jogador desse Atleti acabamos dizendo algo assim como "ele evoluiu muito ultimamente", percebeu? Será que algum treinador das seleções com jogadores 'colchoneros' vai pedir para o Cholo ir junto? Quero dizer, Diego Costa, Juanfran, Koke, Courtois, Godin, Cebolla, Miranda, etc terão o mesmo rendimento em outro time, agora? Também pode ser que o fato de ele ter chegado sem nenhum barulho, e portanto sem tanta responsabilidade, tenha ajudado a que ele aprendesse e evoluísse, sem pressão. Ele também é um especialista em jogadas ensaiadas, de bola parada, especialidade da casa.

Edu: Não dá para ignorar o papel do Cholo, mas só precisamos reconhecer que Miranda vinha bem já na fase pré-Simeone e, evidente, ficou turbinado depois, como todo o time. Miranda é o tipo de jogador que faz do futebol um ofício, não precisa de estardalhaço, não gosta de holofotes nem de polêmicas. Já era assim no São Paulo, mesmo quando provocado pela mídia. Para um zagueiro, responsável pelo lado mais sisudo do futebol, é mais conveniente mesmo ficar imune às badalações e Miranda leva essa regra à risca, chama mais a atenção por sua discreta eficiência. Só que, agora, mesmo sem ter muito o perfil de ídolo e marcando gols decisivos (como hoje, contra o Elche), está fazendo a torcida lembrar mais do que nunca de um mito brasileiro que andou por Manzanares na década de 70 e hoje cuida da molecada. Quem não se lembra?

Carles: Andou não, segue por lá, se bem que aposentado, é diretor do time filial e faz às vezes de instituição, à moda Di Stefano. Luisããão Pereira, como dizia Geraldo José de Almeida quando o zagueirão clássico se antecipava e saia jogando no Palmeiras. Depois da Copa de 1974 veio junto com Leivinha fazer história no Atlético. É o brasileiro com mais jogos oficiais pelo Atlético, 171, se bem que acho que Filipe Luís deve passar o "Chevrolet" nesta temporada. Além deles, lembro de Vavá, Baltazar, Juninho Paulista, Alemão... Miranda já vai pelos cento trinta e tantos...

Edu: Dos quatro brasileiros que honram essa tradição e estão prestes a fazer história pelo Atlético (todos terminaram o jogo de hoje entre os titulares), Miranda é de longe o mais contido, mas não deixa dúvidas sobre o quanto é fundamental para Simeone. Eu diria até que Diego Godin chegou a sua plenitude como zagueiro só agora, resultado da inegável química com o brasileiro. Miranda merece disputar uma Copa, o torcedor brasileiro que se manifesta a cada jogo do Atlético pede essa concessão de Felipão, que, como sabemos todos, adora fazer o marketing 'do contra' - se o povão quer, eu não quero. Só que chegou a hora de fazer justiça, de premiar a seriedade.

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Carles: E, com isso, os três zagueiros de Simeone estariam no Mundial, o belga Toby Alderweireld completa a lista. E eu aproveitaria para pedir também o Filipe Luis, que viria bem também na Roja, se é que o 'seo' Scolari também não vai aproveitá-lo. Nos tempos do Depor ele chegou a ser o jogador mais importante do time até aquela terrível fratura num choque com o goleiro Gorka Iraizoz. Aí, passou por um início um tanto inseguro em Madrid, mas acabou se firmando e cresceu muito de produção com Cholo. Eu diria que atualmente, inclusive, está melhor que Marcelo, prejudicado pelas lesões. Desse jeito vamos acabar vendo maioria absoluta atleticana no Brasil.

Edu: Filipe é outro que vive sua maturidade técnica, mas algo que não sabemos ocorreu na Copa das Confederações, o suficiente para fazer a cúpula da Família Scolari rejeitar o rapaz. Talvez nunca saberemos a razão pela qual Filipe acabou perdendo a vaga de reserva do Marcelo para Maxwel, que não tem, definitivamente, mais futebol que ele, mas é bom de relacionamento e tem o aval do capitão, Thiago Silva, companheiro de PSG. Só poderíamos evitar outra injustiça se Felipão ouvisse a voz do torcedor - e do bom senso - e se rendesse a Miranda.

Carles: E se não quiser ouvir o torcedor, tem o aval do próprio Luis Pereira, que não economizou elogios ao patrício na página do clube e até disse que ele sabe sair jogando como ele próprio fazia nos bons tempos. Fora o exagero, acho que seria mais do que merecido para esse zagueiro sério e excelente no jogo aéreo que faz tudo direitinho em campo e só se atrapalha um bocadinho quando tenta arrancar em castelhano.

Edu: Como ele gosta de falar pouco, 'ni falta que hace'...

 

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