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Diálogo intercontinental sobre futebol, com toques de política, economia e cultura.

A decisão da Copa 2014 na mão de uns poucos

Por Carles Martí (Espanha) e José Eduardo Carvalho (Brasil)
Atualização:

Edu: Os tais critérios "esportivos e geográficos" levados normalmente em conta pela Fifa para formar os bombos do sorteio da Copa foram derrubados neste ano pelo próprio ranking que a entidade atualiza todos os meses. Por causa desse ranking, um pirotécnico exercício de matemática que provoca algumas aberrações com frequência, a inclusão de times como Suíça e Bélgica entre os cabeças de chave (junto com Brasil, Argentina, Uruguai, Alemanha, Espanha e Colômbia) vai fazer com que o sorteio seja uma espécie de pré-Copa no terreno do azar, uma disputa nas bolinhas para ver quem escapa dos grupos da morte.

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Carles: Aberrações ou não, os velhinhos da Fifa aprenderam definitivamente a transformar cada evento num espetáculo grandioso, mesmo quando o que está em jogo é a distribuição das vagas de estacionamento na sede da entidade em Zurique. Faz algum tempo que eles preferem inclusive passar uma imagem menos metódica ou previsora em troca desse adicional de emoção, próprio da imprevisibilidade e da surpresa. Assim mesmo, como antecipamos aqui, de fato reservaram-se para esta edição do torneio a máxima possibilidade de grandes atrações, o maior número de presenças estelares e todos os times tradicionais campeões. Isso significa menos zebras para desequilibrar as chances já na primeira fase. Ao menos, na teoria. E atenção que pode haver mais de um grupo da morte. Ideal para uma fase que quer mesmo é espalhar o espetáculo pelo enorme território continental.

Edu: Sim, porque haverá mais de um - particularmente aposto em dois grupos da morte e mais dois bastante complicados para os grandes. A aritmética da Fifa colocou, por exemplo, três campeões mundiais no quarto bombo, Itália, França e Inglaterra, juntos com os times europeus que não são cabeças de chave (Holanda, Rússia, Croácia, Portugal, Bósnia e Grécia). A única coerência em relação ao sorteio da África do Sul é o terceiro bombo, que reunirá mais uma vez os representantes da Ásia de da Concacaf (América do Norte e Central).

Carles: Havia alguns boatos que colocavam a França no pote com as seleções africanas e com os dois piores sul-americanos no ranking, Chile e Equador que ficaram no pote dois. No fim decidiram que fosse a sorte quem decidisse ou não juntar campeões. Por primeira vez, vai se realizar o sorteio que decidirá qual dos nove integrantes do pote 4 passa ao pote dois e assim deixar todos os potes com oito candidatos. É a segunda parte do sorteio desta sexta-feira, logo depois de sortear os grupos para os cabeças de série, que abre o sorteio.

Edu: Nessa configuração, e como não pode haver no mesmo grupo seleções do mesmo continente, exceto a Europa (que pode ter no máximo dois países por grupo), a possibilidade de alguns torpedos na primeira fase é imensa. Que tal um grupo com Brasil, Itália, França e Estados Unidos? Ou Argentina, Inglaterra, França e México? Ou ainda Espanha, Portugal, Chile e Estados Unidos? Isso sem pensar na hipótese de um certo Atala estar no sorteio e provocar umas quantas bizarrices.

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Carles: Eu já acho que até seria uma atração a mais essa mão cheia de óleo do mestre cuca, ansiosa por provocar uma escorregadela. Mais do que um escândalo, faria correr rios de tinta e pixeis.

Edu: Por mais que a gente tente evitar as teorias da conspiração, quando o assunto é Fifa tudo é possível. Outra disputa paralela que vai agitar as últimas horas antes do sorteio certamente será relacionada com os locais dos grupos, o que pode ser condicionado por lobbies dos cabeças de chave, principalmente os europeus. Quem vai ficar com as sedes úmidas e calorentas do Nordeste e de Manaus? Alemanha e Espanha não irão pressionar para se garantir no Sul, onde, aliás, estão suas maiores colônias de imigrantes? Equipes menos tradicionais, como Bélgica e Suíça, correm o risco de ser penalizadas pelo sorteio? Nem você nem eu temos as respostas, mas algo me diz e ninguém me tira da cabeça que os alemães jamais estarão em Manaus, Cuiabá ou Natal, e o mesmo vale para Espanha e Argentina.

Carles: Sem contar o episódio de possível racismo de que acusam a Fifa para a escolha dos apresentadores. As notícias da repercussão já chegaram por aqui. Dá para prever nesse sorteio de cosmética sofisticada na paradisíaca Costa do Sauipe que as horas prévias serão mais quentes do que a própria cerimônia.

Edu: Geralmente uma sessão platinada e com pretensões glamourosas, na qual ninguém dá muita bola aos discursos, à celebridades e aos números musicais e fica só esperando pelas notícias que saem dos bombos. Só digo uma coisa: sempre tem um pé-frio que puxa a bolinha errada, isso é de lei. Façam suas apostas.

 

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